Com certeza existe mais de uma causa e ela certamente não é só emocional ou psicológica. Quem já viu uma Anoréxica de 32 KG sair de um hospital e continuar achando que não está doente vai me entender. Provavelmente existem componentes psicológicos, biológicos, ambientais e culturais. A impressão que temos é que por motivos sociais ou profissionais começa um emagrecimento e depois de um certo ponto algum mecanismo cerebral toma conta da menina e assume o comando.Leia o depoimento de uma anoréxica, que ilustra bem tudo que foi escrito.
"Com 12 anos, 1.60 de altura e 49 kg me achava gorda e tinha vergonha da minha barriga. Achava bonito modelos magras tipo Shirley Mallmann. Comecei a fazer um regime "básico" e me exercitar. Com 13 anos pesava 36 kg e ainda me achava gorda. Fazia de 1 a 2 horas de exercício 6x por semana. Então comecei a vomitar e de vez em quando "atacar a geladeira. Sem perceber tinha me afastado de todos meus amigos, chorava muito e tinha vontade de morrer. Me sentia tonta e minha mãe resolveu me levar no médico. Ele receitou que 3x por semana fosse ao hospital tomar soro. Minha mãe acatou mas eu reagi e disse que estava me sentindo bem e que amanhã comeria direito. Então me levavam, a força, para fazer soro 1x por semana. Com isso comia menos ainda porque pensava que o soro engordava. Com 32 kg, minha mãe estava desesperada descobriu que estava vomitando. Foi quando descobrimos a Dra. X. Aceitei ir pq pensei que iria ser como os outros médicos; eu dizia que não iria comer e não comia. Com 30 kg e muito desnutrida ela queria me internar pq estava com anorexia nervosa. Na primeira semana não cumpri nada. Quando voltei eu e meus pais levamos uma bronca. Aí meus pais começaram a ficar em cima mesmo. Mas ainda assim burlava-os e escondia comida nos bolsos e vomitava depois. Proibida de exercícios acordava de madrugada para me exercitar. Logo mamãe descobriu. A Dra. X me deu uma semana para aumentar de 500g a 1 kg se não iria me internar. Eu achava que meus pais nunca iriam permitir. Na outra semana, quando fui me consultar havia perdido 200g, então falou com meus pais e se eu não fosse internada ela se negaria a me tratar, acabei sendo internada. No dia 23 de dezembro de 1997 com 30 kg e 13 anos fui internada no hospital Y, foi quando começou o período mais difícil do tratamento, comecei a dizer que iria fazer greve de fome, a Dra. me deu 4 dias para aumentar 400g e trouxe a sonda ao meu quarto mostrando o que iria acontecer se eu não começasse a comer, vi que eu não tinha outra opção e comecei o comer. Mesmo internada eu continuava colocando comida dentro dos bolsos e vomitando em vasos de flor, meu banheiro ficava chaveado 24 horas por dia e quando precisava ocupá-lo uma enfermeira me acompanhava. Restrita de visitas de familiares e amigos eu chorava muito, foram 3 meses e meio de sofrimento. Voltei para casa na Páscoa para fazer um teste de como eu me comportaria. Como me comportei e comia direitinho não voltei mais pro hospital. a Dra. liberou os exercícios, comecei nadando duas vezes por semana. Quando voltei pra casa não saía de casa porque me achava gorda e não queria que ninguém me vice assim. com 1m e 56 kg me achava gorda e tive uma pequena recaída. Fui forçada a recuperar ou voltaria para o hospital, novamente não tive saída e voltei aos 50 kg com muito esforço. Chegou o verão e eu só ia pra piscina de maiô pois tinha vergonha da minha barriga. aos poucos, com os exercícios minha barriga foi se definindo e minha auto estima subindo. Hoje faço academia 2 vezes por semana e de dois em dois meses vou fazer revisão na Dra. X, ainda faço terapia com minha Psiquiatra 2 vezes por mês. Estou com 1,65m de altura e 51 kg. Ainda tenho um pouco de medo de comer mas, também tenho medo de recaídas. Hoje tenho consciência de que se não tivessem me internado o tratamento, em casa, jamais daria certo."
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